sábado, 16 de maio de 2009

A carta


Como era demorado e entendioso se comunicar com alguém de longe, hein? Mesmo não sendo tão velho assim me lembro bem da dificuldade que tinhamos para enviar uma mensagem para um parente, uma namorada ou um amigo qualquer. Demorava dias até que a tal carta pudesse chegar no endereço solicitado. Depois levava outro tanto até que a pessoa lá de longe pudesse te responder. Enfim era um tédio muito grande, mas ainda assim tinha seus atrativos. O suspense, a emoção em poder abrir o envelope, o conteúdo da mensagem... Humm, era bom. Se fosse uma carta de amor então, oh! Dai o coração acelerava e quase que se derretia. Pena que isso não ocorria com frequência...
Era comum, na época, receber cartas antes e durante o natal e próximo ao ano novo também. Quando alguém então fazia aniversário dai lá estavam elas novamente, as correspondências escritas de papel e caneta, alegrando quem as recebia. Era um tempo nostálgico. Recordo-me que aqueles que não recebiam nenhuma mensagem ficava largado pelos cantos, triste e abandonado. Era o mesmo que não tivesse nenhum amigo ou quem gostasse dele. Comigo mesmo isso se passou diversas vezes. Era triste ver que meu aniversário tinha chegado e que ninguém tinha lembrado de mim. Também, naquela época, eu praticamente não escrevia para ninguém... Então recebia o que dava, ou seja, nada! Ainda bem que os tempos mudaram e hoje me comunico com pessoas de diversos lugares ao redor desse mundão de Deus.
Se levarmos em consideração as transformações pelos quais todo tipo de serviço sofreu os correios ainda são os heróis da resitência, pois perduram em nosso meio. Eles realizam o mesmo tipo de serviço, trazendo e levando mensagens sutis, sigilosas ou de paixão, como a trinta, quarenta ou cinquenta anos atrás. Atualmente eles contam com o sedex, que agilizam um bocado nesse tipo de operação. Mas nem de longe se compara com a velocidade da tecnologia eletrônica que temos atualmente.
O e-mail, a carta virtual, revolucionou e acelerou as comunicações entre as pessoas. Ninguém mais precisa dizer que tem preguiça de ir á uma papelaria, comprar papel de carta e envelope, escrever uma "mini-redação" para quem você queria falar, e ir até uma agência de correios para enviá-la, pagando por isso, e depois esperar até obter o resultado. Tudo evoluiu. Você agora não precisa ficar mais tristonho esperando pelo carteiro bater em sua porta, trazendo consigo uma carta, uma carta de alguém...
SHALOM ALEICHEM

Trecho do livro: Quem és tu Domingo?
- Já leu as cartas? - Félix indagou para Joana, assim que foi informado que as correspondências haviam chegado.
As amigas já tinham ido se deitar. Joana estava sozinha no grande salão.
- Sim. - Respondeu ela secamente.
- E como eles estão?
- Bem.
- Bem? O que mais disseram?
- Pegue e leia você mesmo.
Ela que não anda nada bem... Tem misericórdia, oh Deus!
Enquanto Félix sentou-se em sua poltrona para ler o conteúdo das duas cartas que seus filhos lhe enviaram de Gumyel, Joana voltou a entreter-se com o tear.
A fabricação de tecidos era obra das mulheres. Depois de tosquiada a ovelha e colhido e tingido a lã, pelos camponeses, a tarefa ficava á cargo das suaves e dóceis mãos femininas para fiar, tecer e bordar. Nas regiões da Normandia, Flandres e Champagne, todas na Gália, vinham os melhores tecidos produzidos para serem comercializados nas feiras dos demais Reinos. Mas ali em Caleruega, Joana e suas amigas faziam também com que seu trabalho fosse reconhecido pelos mercadores. Isso era seu único e atual prazer.
Coitada, é isso que ainda á faz viver. Pensava Félix, enquanto abria as mensagens. Era doloroso vê-la trabalhando até altas horas da noite.

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